terça-feira, 21 de outubro de 2025

Renildo — o homem que desejou apenas amar diferente

O novo livro do jornalista Elias Barboza, lançamento dia 3 de novembro de 2025 na BIENAL, revive um caso emblemático de preconceito e injustiça ocorrido em Coqueiro Seco em 1993 - um vereador foi cassado por assumir sua homossexualidade.



Em 1993, no pequeno município de Coqueiro Seco, em Alagoas, um episódio marcaria para sempre a história política e social do estado. Um vereador recém-eleito, Renildo José dos Santos, ousou quebrar o silêncio de uma época marcada por preconceitos e tabus. Assumiu publicamente sua homossexualidade — um gesto simples, mas revolucionário — e pagou um preço alto demais por isso: o afastamento, a cassação e, mais tarde, a morte cruel. Três décadas depois, essa história ainda ecoa nas memórias de quem testemunhou a intolerância institucionalizada e a omissão das autoridades diante de uma violência que ultrapassou os limites da política e da moral. O jornalista e escritor Elias Barboza, conhecido por sua escrita corajosa e investigativa, lança agora seu sexto livro, que resgata essa trajetória dolorosa e necessária. Uma obra que não apenas denuncia, mas também homenageia a resistência de um homem que desejou apenas o direito de amar diferente. Renildo chegou à Câmara Municipal de Coqueiro Seco cheio de esperanças. Jovem, determinado e com um discurso voltado para os direitos sociais e a igualdade. Após assumir publicamente sua homossexualidade, um grupo de vereadores protocolou um pedido de afastamento por 30 dias, alegando “quebra de decoro parlamentar”. O gesto, além de injusto, refletia o preconceito entranhado nas estruturas políticas e religiosas da época. Pouco tempo depois, o afastamento se transformou em cassação, aprovada pela maioria da Câmara — um ato que simbolizou o quanto a intolerância era capaz de silenciar vozes dissidentes. Renildo não cometeu crime algum, sua “falha” foi ter coragem de ser quem era. 

Uma história que o tempo não apaga 

O caso ganhou repercussão, dividiu opiniões e revelou as feridas de uma sociedade que ainda não estava preparada para lidar com a diversidade. Enquanto parte da população via em Renildo um exemplo de autenticidade, outra parcela o condenava, alimentando discursos de ódio e exclusão. A obra reconstrói os fatos com rigor jornalístico, mas sem perder o olhar humano sobre o personagem central — um homem que amava, sonhava e acreditava na política como instrumento de transformação. Mais do que resgatar um episódio, o livro provoca reflexão. O que mudou desde então? Ainda hoje, em pleno século XXI, pessoas continuam sendo perseguidas, humilhadas e assassinadas por serem quem são. A história de Renildo, portanto, não é apenas passado. É espelho do presente e alerta para o futuro. Nessa narrativa jornalística através da escrita, o autor devolve voz e dignidade a um homem que tentaram apagar da memória coletiva.

“Renildo – político e homossexual, torturado até a morte” é uma obra que desafia o leitor a encarar a verdade que muitos tentaram esconder. Um relato doloroso, mas necessário, que mostra que o amor, mesmo em meio à violência e à intolerância. Ao reconstituir essa história, Elias Barboza não apenas presta homenagem a Renildo, mas também denuncia o mecanismo perverso que tenta silenciar os diferentes. Seu livro se insere na tradição do jornalismo investigativo com compromisso ético e social, que busca não apenas narrar, mas transformar. Cada linha do livro é um convite à empatia, uma ponte entre o passado e o presente, entre a dor e a esperança. 

O lançamento deste sexto livro de Elias Barboza promete emocionar e provocar. Em tempos de retrocessos e discursos de ódio, obras como esta reafirmam o papel fundamental da literatura e do jornalismo: dar voz a quem foi silenciado. No final, o leitor é levado a uma reflexão inevitável: quantos “Renildos” ainda sofrem em silêncio, privados do direito de existir plenamente? 



 *Elias da Silva Barboza – graduado pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL em música – canto e Comunicação Social Jornalismo. Professor de canto, instrumentista, cantor, poeta, escritor, jornalista e subtenente da reserva da Polícia Militar de Alagoas. Natural da cidade de Maceió, mas abraçou Arapiraca como segunda casa. Hoje, mora em TaquaranaAL.


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