domingo, 22 de novembro de 2009

As correntes do desespero

As correntes do desespero





A combinação de despreparo e medo de perder os filhos para o tráfico leva ao cometimento de atos extremos, que beiram a insanidade. À primeira vista, a informação de se manter uma criança – menino ou menina – presa dentro de casa e ainda acorrentada remete-nos ao repúdio e até nos arripuna. Mas esses atos insanos – embora nunca recomendados – têm sido a saída que os pais acham confiável para manter os filhos longe do alcance do tráfico.

A ação dos traficantes está nas calçadas das casas dos cidadãos, dos pais de família, dos homens de bem. O aliciador também está na porta das escolas – públicas e privadas – de Maceió. As nossas crianças, ainda naquele momento de formação do caráter, de indefinição, de reconhecimento e de desejo de participar de tudo são alvos fáceis para esses criminosos.
Medidas de prevenção são tomadas, mas os efeitos parecem não aparecer. Cada vez mais, os nossos meninos estão sendo tomados pelo tráfico. No polêmico filme “Tropa da Elite”, determinado personagem – na condição de líder do tráfico numa favela carioca – afirma que, “quando a família abandona um filho, o tráfico o adota”.
Ser acorrentado pelas pernas causa dor física e machuca a alma; constrange, entrava o processo cognitivo do ser humano e inibe a vontade de viver. A pessoa é remetida a tempos idos, dos quais não se tem saudade. Numa criança, esse procedimento é ainda mais traumático. No entanto, esse tipo de situação vem acontecendo com grande frequência.
Esta semana, a imprensa alagoana estampou onde podia informações sobre o fato de um pai – um pedreiro – ter acorrentado o filho, um menino de 11 anos, em casa para ele “não ir brincar na rua”. “Um horror”, diz o senso comum. O caso foi descoberto porque a criança não compareceu à escola para a realização de um trabalho valendo nota no boletim escolar.
Quando foi chamado à porta pela mãe de um colega de escola, o garoto saiu pulando – uma vez que tinha as pernas acorrentadas – e contou o que estava acontecendo. As autoridades entraram em ação e resgataram o menino.

O caso aconteceu no bairro do Jacintinho, onde se tem um dos maiores índices de violência em Maceió, com destaque para o tráfico de drogas. O medo do poder do tráfico fez com que o pedreiro acorrentasse o seu filho dentro de casa, impedindo-o de ir à escola.

Ediorial do O Jornal - Maceió - AL

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